Você
agora deve estar pensando. Ora, La Niña,
como é o oposto, ou seja, é o resfriamento
das águas do Oceano Pacífico Equatorial,
então os efeitos são exatamente opostos
!
NÃO
É BEM ASSIM !!!!!
O
termo La Niña ("a menina", em espanhol)
surgiu pois o fenômeno se caracteriza por ser
oposto ao El Niño. Pode ser chamado também
de episódio frio, ou ainda El Viejo ("o
velho", em espanhol). Algumas pessoas chamam
o La Niña de anti-El Niño, porém
como El Niño se refere ao menino Jesus, anti-El
Niño seria então o Diabo e portanto,
esse termo é pouco utilizado. O termo mais
utilizado hoje é: La Niña
Anomalia
de temperatura da superfície do mar em dezembro
de 1988. Plotados somente as anomalias negativas
menores que -1ºC. Dados cedidos gentilmente
pelo Dr. John Janowiak - CPC/NCEP/NWS/NOAA-EUA.
Para
entender sobre La Niña, vamos retornar ao
nosso "modelinho" descrito no item sobre
El Niño. Imagine a situação
normal que ocorre no Pacífico Equatorial,
que seria o exemplo da piscina com o ventilador
ligado, o que faria com que as águas da piscina
fossem empurradas para o lado oposto ao ventilador,
onde há então acúmulo de águas.
Voltando para o Oceano Pacífico, sabemos
que o ventilador faz o papel dos ventos alísios
e que o acúmulo de águas se dá
no Pacífico Equatorial Ocidental, onde as
águas estão mais quentes. Há
também aquele mecanismo que citei anteriormente,
o qual é chamado de ressurgência, que
faz com que as águas das camadas inferiores
do Oceano, junto à costa oeste da América
do Sul aflorem, trazendo nutrientes e que por isso,
é uma das regiões mais piscosas do
mundo. Até aqui tudo bem, esse é o
mecanismo de circulação que observamos
no Pacífico Equatorial em anos normais, ou
seja, sem a presença do El Niño ou
La Niña.
Pois
bem. Agora, ao invés de desligar o ventilador,
vamos ligá-lo com potência maior, ou
seja, fazer com que ele produza ventos mais intensos.
O que vai acontecer?
Vamos tentar imaginar ? Com os ventos mais intensos,
maior quantidade de água vai se acumular
no lado oposto ao ventilador na piscina. Com isso,
o desnível entre um lado e outro da piscina
também vai aumentar. Vamos retornar ao Oceano
Pacífico. Com os ventos alísios (que
seriam os ventos do ventilador) mais intensos, mais
águas irão ficar "represadas"
no Pacífico Equatorial Oeste e o desnível
entre o Pacífico Ocidental e Oriental irá
aumentar. Com os ventos mais intensos a ressurgência
também irá aumentar no Pacífico
Equatorial Oriental, e portanto virão mais
nutrientes das profundezas para a superfície
do Oceano, ou seja, aumenta a chamada ressurgência
no lado Leste do Pacífico Equatorial. Por
outro lado, devido a maior intensidade dos ventos
alísios as águas mais quentes irão
ficar represadas mais a oeste do que o normal e
portanto novamente teríamos aquela velha
história: águas mais quentes geram
evaporação e consequentemente movimentos
ascendentes, que por sua vez geram nuvens de chuva
e que geram a célula de Walker, que em anos
de La Niña fica mais alongada que o normal.
A região com grande quantidade de chuvas
é do nordeste do Oceano Índico à
oeste do Oceano Pacífico passando pela Indonésia,
e a região com movimentos descendentes da
célula de Walker é no Pacífico
Equatorial Central e Oriental. É importante
ressaltar que tais movimentos descendentes da célula
de Walker no Pacífico Equatorial Oriental
ficam mais intensos que o normal o que inibe, e
muito, a formação de nuvens de chuva.
Em geral, episódios La Niñas também
têm freqüência de 2 a 7 anos, todavia
tem ocorrido em menor quantidade que o El Niño
durante as últimas décadas. Além
do mais, os episódios La Niña têm
períodos de aproximadamente 9 a 12 meses,
e somente alguns episódios persistem por
mais que 2 anos. Outro ponto interessante é
que os valores das anomalias de temperatura da superfície
do mar (TSM) em anos de La Niña têm
desvios menores que em anos de El Niño, ou
seja, enquanto observam-se anomalias de até
4, 5ºC acima da média em alguns anos
de El Niño, em anos de La Niña as
maiores anomalias observadas não chegam a
4ºC abaixo da média.
Episódios recentes do La Niña ocorreram
nos anos de 1988/89 (que foi um dos mais intensos),
em 1995/96 e em 1998/99. "
Fonte: O El Niño e Você - o fenômeno climático - Gilvan Sampaio
de Oliveira
Editora Transtec - São José dos Campos
(SP), março de 2001.